26 Anos de Saudade | Dom Jorge Marcos

No dia 28 de maio de 2015 completou 26 anos do falecimento de Dom Jorge Marcos de Oliveira. Muitas pessoas que hoje trabalham e dirigem a Associação Lar Menino Jesus eram crianças, adolescentes ou jovens quando este fato aconteceu, razão pela qual quero rememorar um pouco de sua vida, particularmente de sua saúde, sobretudo para aqueles que não tiveram o privilégio de conhece-lo.

Dom Jorge Marcos foi o primeiro Bispo da Diocese de Santo André, naquela época o mais jovem Bispo brasileiro, com 38 anos, vindo de sua cidade natal, Rio de Janeiro, onde foi Bispo auxiliar por 08 anos. Ele chegou em Santo André em setembro de 1954.

A nova Diocese, composta por cidades importantes, era um grande desafio para o jovem Bispo que, de forma poética e premonitória, já falava das aflições do seu coração, mas sobretudo da vida: “Senhor, que meu coração aflito, a chorar de tanto ter vivido. Senhor, que todo o meu Eu se acabe assim, diante de Ti, do teu altar no mundo, e comece depois o canto sem fim da vida que também, diante de Ti, não terá fim.”

Cinco anos depois de sua chegada, em setembro de 1959, começaram a se apresentar os primeiros sintomas. Acompanhado por Dr. Celso Gama, Dom Jorge foi atendido no Instituto de Cardiologia de São Paulo, para realização de um lipidograma, que apresentou alterações importantes, exigindo que fosse iniciado o tratamento a fim de evitar problemas cardíacos mais graves. Mesmo apresentando problemas de saúde, trabalhava intensamente cuidando do seu rebanho.

Em 1962 Dom Jorge viajou a fim de participar do Concilio Vaticano II. Havia poucos dias que ele estava em Roma quando sofreu o primeiro infarto, no dia 10 de novembro. Socorrido, foi tratado na casa da família do Monsenhor Renato Angelucci1 que o hospedava, mas com o agravamento, ele teve que ser hospitalizado permanecendo internado no período de 26 de dezembro a 13 de janeiro de 1963, quando então pode retornar ao Brasil e à Diocese, ficando sob os cuidados do Dr. Mário Ortman Ferreira.

Somando-se aos problemas cardíacos, em 1969 ele sofreu a primeira crise de labirintite, o que exigiu um tratamento intenso e, por recomendação médica, a necessidade imperiosa de fazer repouso. Essa situação levou-o a morar no sítio, em Suzano. O repouso mental proporcionado pelo trato matinal dado aos passarinhos, cães, flores e árvores frutíferas do sítio lhe proporcionavam o repouso exigido, embora tivesse que vir todos os dias para Santo André e trabalhar intensamente até à noite.

Em 1970 foi diagnosticada osteoartrose, além de discopatia nas vértebras C5 e C6, que provocavam muita dor e desconforto.

Juntos, esses problemas de saúde o acompanharam e com o passar do tempo se intensificaram de tal forma que, em dezembro de 1975, Dom Jorge se viu forçado a renunciar ao bispado, embora tivesse apenas 60 anos. Entretanto, acostumado a trabalhar duro, ele não podia ficar inativo, sob o risco de piorar ainda mais sua saúde. Assim, após a renúncia dedicou boa parte do seu tempo à Associação Lar Menino Jesus, entidade que ele fundara há mais de vinte anos, em fevereiro de 1956, tendo também se colocado à disposição de Dom Claudio Hummes, o novo Bispo de Santo André, além de ter assumido a paróquia de São José na Vila Assis no município de Mauá, onde também no dia 28 de maio celebrou sua última missa.

Um ano após sua renúncia, em abril de 1976, passou mal quando estava participando de uma reunião que se realizava na Casa Santa Monica em São Bernardo do Campo. Foi socorrido por Dr. Jerônimo Adamo, e levado ao pronto socorro da cidade, foi constatada a causa: problemas cardíacos. Em maio passou mal novamente, sendo internado no Hospital Cristovão da Gama, em Santo André, e depois transferido para o Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Como os problemas persistiam, em junho do mesmo ano foi realizado um cateterismo, que revelou a gravidade de sua situação cardiológica, culminando com uma cirurgia de revascularização em 28 de junho de 1976, realizada pelo Dr. Adib Jatene.

Nove anos depois, em 1985, foi submetido a novo cateterismo que mostrou obstrução importante, entretanto, suas condições físicas já não permitiam uma nova cirurgia. O acompanhamento clinico e cardiológico feito mensalmente não impediu que no dia 28 de maio de 1989 ele partisse para a eternidade.

Este Bispo, que aqui chegou moço, gastou sua saúde no trabalho de construção da Diocese de Santo André (ele foi o primeiro Bispo) e dedicou sua vida para Associação Lar Menino Jesus. Seu pastorado deu à Diocese uma característica toda especial ao idealizar uma Igreja inserida no meio operário, o que lhe valeu o título de Bispo dos operários. Seu apostolado fez da ALMJ um lugar especial. Ao abrir seu coração para centenas de crianças necessitadas de um “Lar” e carentes de muito amor, Dom Jorge deixou um exemplo de vida aos que conviveram com ele, e também para aqueles que hoje buscam trilhar os seus passos.

A saúde abalada por tantos problemas, principalmente cardíacos, limitaram seu episcopado e sua vida, mas Dom Jorge não deixou que as dores físicas limitassem seu apostolado, dedicando sua vida, suas forças e sua energia por amor a Cristo e seus irmãos nesta Diocese de Santo André.

Santo André, 28 de maio de 2015.

Irmã Maria Miele
Serva do Menino Jesus
Diretora de Patrimônio – Associação Lar Menino Jesus


1 – Monsenhor Renato Angelucci foi vigário da Paróquia Santa Maria Goretti, em Santo André.

Post Author: CCDJ-D

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