O Bispo Jovem para uma Diocese recém nascida

Foi com apenas trinta e um anos de idade, após poucos seis anos como padre, que Dom Jorge Marcos de Oliveira foi nomeado epíscopo pelo Papa Pio XII , em 1946 e ordenado bispo da Igreja Católica no mesmo ano, tornando-se o bispo mais jovem do mundo e depois, por muitos anos, permanecendo o bispo mais jovem da América Latina.  Começou o seu ministério episcopal como bispo auxiliar do Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara, na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Este jovem bispo nasceu em 10 de novembro de 1915 no Rio de Janeiro (carioca da gema) de uma família em boas condições econômicas. Sendo seus pais: Carlos José de Oliveira e Angelina Rufo.  O Rio de Janeiro era ainda a Capital Federativa do Brasil, tendo sido antes também a capital do Império, e portanto, um ambiente sócio-cultural cosmopolita e aristocrático. Nascido e educado neste ambiente, sempre carregou um espírito alegre, porém, sombreado de uma certa nostalgia, que o ambiente do velho Rio de Janeiro transmitia a seus filhos.

Com catorze anos entra para o seminário e com vinte e cinco anos de idade é ordenado presbítero.

Homem de uma inteligência refinada e acurada, com profunda sensibilidade pelo sofrimento do próximo, sobretudo os mais pobres e sofredores, tinha uma facilidade enorme de estabelecer laços de amizade e um grande carisma pessoal, que  sempre pôs a serviço de Cristo e da Igreja, presentes na pessoa dos irmãos.

Durante os oito anos em que exerceu o episcopado no Rio de Janeiro, visitou muitas famílias nas favelas e periferias cariocas, onde encontrou o quadro existencial marcado pelo descaso governamental e pela ação de exploradores inescrupulosos, homens que sempre estão a se perpetuar  entre nós. Também teve um trabalho bem atuante junto à juventude católica, como era de se esperar até mesmo por causa de sua idade e da natural identificação entre ele e os jovens. Representou a Juventude Católica Brasileira (a JOC) em dois Congressos Internacionais, na Itália e Espanha.

Desta proximidade com a juventude, facilitou-lhe também o serviço que exerceu junto às Obras das Vocações Sacerdotais, pois durante três anos, foi o Diretor Nacional das Vocações Sacerdotais.

As divinas belezas naturais da Cidade Maravilhosa, em harmonia com as intervenções não menos belas da arquitetura humana, cimentadas por um panorama de grande agitação econômica, política e cultural, emolduradas pelos ares da antiguidade colonial, faziam desta cidade uma estufa onde o coração do jovem bispo era nutrido para a sensibilidade humanística e cristã que o capacitaria a vir “construir” uma nova e grande diocese entre a baixada santista e o planalto de São Paulo.

Muitos de nós não éramos nem nascidos, quando em 18 de julho de 1954 o Papa Pio XII criou a Diocese de Santo André, e em 12 de agosto, o Santo Padre nomeia o bispo jovem, Dom Jorge Marcos de Oliveira, para esta recém-criada diocese. Sua posse aconteceu em 12 de setembro do mesmo ano, em meio a uma grande festa. Dom Jorge chegou acompanhado do Cardeal Giovani Adeodato Piazza, legado papal para a ocasião tão importante, e permaneceu conosco durante 21 anos como primeiro bispo diocesano.

Durante o seu pastoreio, a Diocese de Santo André cresceu junto com os sete municípios que a compõe, a chamada Região do Grande ABC Paulista. Os problemas desta região foram entrelaçados à vida desta Igreja Particular, que o bispo jovem ia conduzindo, não sem gastar as suas forças e entregar a sua juventude por amor a Cristo e aos seus irmãos.

Das 16 paróquias existentes quando Dom Jorge por aqui chegou, foram deixadas 74 paróquias ao sucessor, Dom Cláudio Hummes. Dom Jorge trabalhou incansavelmente pelos direitos e dignidade dos trabalhadores, a ponto de ser conhecido nacional e internacionalmente como o “Bispo dos Operários”, por ter sempre estado ao lado dos trabalhadores que, nos primeiros vinte e cinco anos da Diocese, formavam 80% da população do Grande ABC.

Sempre foi um conciliador e canal de diálogo entre os operários e os empresários, durante várias greves acontecidas ao longo de nossa história como Diocese e Região.

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Desta sensibilidade cristã e humanística (comumente chamamos a isto, hoje, de sensibilidade social), fundou em 18 de março de 1956 a Associação Lar Menino Jesus, inicialmente para cuidar de jovens “mães solteiras”, que engravidadas, eram renegadas por suas famílias e por toda a sociedade.  Atualmente esta Associação é presidida pelo Pe. Ademir Santos de Oliveira, e cuida de crianças e adolescentes em risco social e de famílias que precisam trabalhar e não tem com quem deixar os filhos no horário alternativo ao escolar (conhece mais da obra no site do Lar Menino Jesus).

A larga experiência em trabalhar na defesa dos operários e no socorro dos menos favorecidos, fez de Dom Jorge Marcos de Oliveira, um dos fundadores e depois Presidente de Diretoria da FEASA (Federação das Entidades Assistenciais de Santo André), instituição que ainda hoje tem um  papel importante no cenário de Assistência Social na cidade.

É essa pessoa, este batizado, este cristão, este bispo, este homem de Deus e da Igreja, que estamos a celebrar o Centenário de seu Nascimento. Estamos a agradecer a Deus por ter concedido a Dom Jorge vir a este mundo, para passar por ele, a exemplo de Jesus, “fazendo o bem”(At 10,38).  Nesta ocasião, temos muito o que descobrir e reconhecer sobre sua missão entre nós. Como já dito, seu papel ainda não foi devidamente reconhecido pela história, por nós. Cabe aos jovens estudantes de história, de sociologia, de teologia, etc, se encontrarem e se debruçarem sobre essa personalidade rica e em seus atos que modificaram as características da História do nosso Grande ABC e da Diocese de Santo André.

Por isto mesmo, a cada dia 10 de cada mês, até o dia 10 de novembro próximo, que é a data do seu nascimento, estaremos publicando um texto sobre a vida e o pastoreio de Dom Jorge Marcos de Oliveira.

E para encerrar, convém ainda recordar sobre a pessoa deste valoroso e querido bispo, que é desconhecido da maioria dos jovens católicos e de muitos em geral.

Muito estudioso, alegre, gostava de cozinhar e de reunir os amigos para confraternizar ao redor de uma boa mesa, tinha um olhar paternal  às crianças e jovens e gostava muito de escrever poesias e ouvir música clássica.

Enfim, amava a vida como convém a um bom cristão, como expressão da dignidade humana e possibilidade de realização das potencialidades escritas em cada pessoa pelo divino Criador e para ser feliz.

Simplesmente assim, ser feliz, buscando auxiliar o próximo a também encontrar a sua felicidade e realizar-se como filho do bom Deus.  E como bom carioca, era uma pessoa voltada para o mar, uma pessoa receptiva, acolhedora, disposta a fazer novas amizades, alegre, de bem com a vida, e com essa abertura do coração à transcendência, ao bom Deus, que é o mar sem fim, a infinitude, para o qual cada ser humano se encaminha ao longo da existência neste mundo.

Padre Ademir Santos de Oliveira
Presidente

Post Author: CCDJ-D

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